segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Responsabilidade ambiental: bons exemplos no Vale do Paraíba

Ambientalista Roberto Lamego.
Os barões do verde

O mesmo café que, em meados do século XIX, colocou o Vale do Paraíba no centro da economia brasileira também alterou substancialmente a paisagem da região. Durante décadas a fio, grandes trechos da Mata Atlântica foram devastados pelos barões da lavoura, que sugaram a terra até o último suspiro de sua produtividade. Conscientes da importância de reverter esses danos, novos donos de propriedades, empresários e ativistas ambientais descobriram, nos espaços de antigas fazendas cafeeiras, como fazer da preservação uma atividade sustentável.

Em Valença, o ambientalista Roberto Lamego, líder do projeto “Salveaserra”, dirige, desde 1992, o Santuário de Vida Silvestre da Serra da Concórdia, que funciona em terras da Fazenda Santo Antônio da Aliança — antiga produtora de café. Com recursos próprios, Lamego implantou no santuário um sistema agroflorestal, que combina a produção econômica com a conservação dos recursos naturais.

— Infelizmente, só o discurso ambiental não é suficiente. O produtor precisa também ter a motivação econômica — afirma.

A iniciativa do ambientalista inclui ainda uma programação educativa — o projeto “Um dia na mata” —, que proporciona visitas orientadas de alunos da rede pública de ensino ao santuário, a fim de explicar a importância das florestas para a proteção da biodiversidade, a regulação do clima e a produção de água. Com as atividades sustentáveis, Lamego conquistou no mês passado, pelo “Salveaserra”, um prêmio internacional da Associação Global Giving, dos Estados Unidos, na categoria Meio Ambiente.

— O estrago já foi feito. Agora, nosso dever é tentar achar meios de minimizar os danos, com novas formas agricultura — diz.

Ainda na mesma cidade, outro trabalho se destaca pela preocupação com o meio ambiente: a produção de orgânicos na Fazenda Vista Alegre, antiga lavoura cafeeira de Visconde de Pimentel. A construção histórica pertence, desde 1980, ao casal Delio e Clair de Mattos Santos, e a plantação sem agrotóxicos é tocada pela filha dos dois, a empresária Sônia Mattos.

— Os produtos orgânicos são importantes, sobretudo na construção de hábitos sustentáveis para a sociedade. Além de serem mais saudáveis, não agridem a terra — explica Sônia.

Ameaçado de extinção no início deste século, o jacaré-de-papo-amarelo driblou o risco de desaparecer graças ao surgimento de criadouros. Na região, o mais famoso, o projeto “Arurá”, fica na Fazenda Bonsucesso, no distrito de Nossa Senhora do Amparo, em Barra Mansa.

Inauguradas em 2004 pelo empresário Glenn Collard, as estufas de criação de jacarés tinham como objetivo inicial apenas a preservação da espécie. Hoje em dia, fora de risco, os animais servem para fins comerciais, abastecendo, com autorização do Ibama, um mercado antes dominado por carne de origem ilegal.

— Somente alguns dos filhotes nascidos aqui podem ser abatidos. Preservamos todas as matrizes reprodutoras. A conservação é a essência do projeto — diz Marcos Roberto Campos, responsável pela administração do criadouro, que tem cerca de 1.300 jacarés.

O Açude da Concórdia, em Valença, foi aberto no fim do século XIX como uma exigência do Barão de Santa Mônica, que tinha terras ali. Ele queria um manancial no qual pudesse lavar suas plantas de café. Em 1930, a área do açude foi desapropriada pelo governo do estado e cedida ao município para o abastecimento da população. Num esforço da Associação de Defesa do Meio Ambiente do Médio Paraíba (AMA-Médio Paraíba), em 2001, a região de 23 hectares foi decretada Parque Natural Municipal do Açude da Concórdia, primeira Unidade de Conservação do município.

— O objetivo principal do parque, atualmente, é a preservação de ecossistemas naturais importantes para o equilíbrio do meio ambiente — explica Carlos Henrique Luth, membro da AMA-Médio Paraíba e gerente de gestão ambiental da prefeitura de Valença.

O turismo ecológico é uma das principais fontes de recurso do parque, que tem administração mista do município e da associação. Para chegar ao açude, o visitante tem que pagar uma taxa de R$ 3. É possível ficar acampado (R$ 10, por pernoite) ou dormir em um abrigo (R$ 20, por pernoite).

A quem planeja uma visita vale lembrar que não é permitido o banho no açude.

— O manancial é uma bacia protegida. Além disso, existem jacarés na água — diz Luth.


A alguns quilômetros dali, em Rio das Flores, o pesquisador Gonçalo Guimarães mantém em seu sítio, Quinta das Águas, gado e plantações orgânicas. Desde que começou a produção, em 2009, ele percebe uma grande melhora no solo de sua propriedade — fruto do desmembramento da Fazenda Santa Luiza.

— A monocultura do café empobreceu muito a terra. O Vale do Paraíba, que tinha uma mata exuberante, virou quase um deserto. A plantação orgânica, com o uso de adubo natural, devolve a biomassa do solo e, com isso, o ciclo da vida recomeça. Os pássaros voltaram a circular por aqui porque os insetos também retornaram — conta Guimarães.

Fonte: O Globo Bairros-Vale do Paraíba

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